Em live, prefeita de Rio Quente fala dos desafios das mulheres na política

8 de novembro de 2021 às 11:33

Ana Paula Lima participou de debate promovido pela Academia Megasoft ao lado de outras mulheres de destaque em Goiás

“Está na hora de nós mulheres enfrentarmos esses discursos”, disse a prefeita de Rio Quente, Ana Paula Lima (Solidariedade), ao revelar as dificuldades e osobstáculos estruturais que ainda mantêm a maioria das mulheres distantes dos espaços de poder. Ana Paula foi eleita em 2020, se consagrando como a primeira mulher a comandar a administração do município de Rio Quente.Os desafios enfrentados e vencidos pela prefeita foram relatados numa live promovida pela Academia Megasoft na quinta-feira (04/11).

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A live promovida pela Academia Megasoft contou com mediação da advogada Nara Bueno, especialista e Direito Eleitoral, foi a quarta de uma série que discute o machismo estrutural no poder público. Ao lado de outras duas participantes de peso, Ana Paula foi convidada para falar sobre a presença feminina na gestão pública e a importância da participação das mulheres para a sustentação da democracia. A jornalista Cileide Alves e a professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Margareth Arbués, foram as outras duas convidadas.

Ana Paula contou que nasceu em uma família de políticos, no entanto, a sucessão não lhe ocorreu facilmente. Seu avô foi vice-prefeito e prefeito nos municípios de Pedrinópolis (MG) e Rubiataba (GO). Enquanto seu pai, Rivalino de Oliveira Alves, foi prefeito de Rio Quente por quatro mandatos.

Como secretária municipal de Turismo, Cultura e Eventos em Rio Quente, atuou na execução de grandes projetos e viu seu nome se destacar na gestão pública, sendo convidada para se filiar ao partido Solidariedade. Ana Paula convidou o pai, ex-prefeito Rivalino, para lhe acompanhar no encontro que selaria sua filiação e assumiria a presidência regional da sigla. “Durante a reunião, eles falaram: quem sabe um dia a Ana Paula será vereadora, prefeita, vice-prefeita? E meu pai respondeuassim: “Os homens de Rio Quente não aceitam ela como prefeita”. E eu tive que enfrentar a fala do meu pai”.  

“O senhor como homem, um grande líder na cidade, é capaz de transformar a mentalidade machista. Principalmente dos seus companheiros”, retrucou Ana. Para ela, aquele momento ainda era cedo para cogitar uma candidatura. Mas deixou clara sua intenção de continuar trabalhando para que isso acontecesse.

Quatro anos depois, em 2020, Ana Paula se candidatou a prefeitura de Rio Quente, concorrendo com três homens. “Éramos quatro candidatos. O que eles espalhavam pela cidade era que a Câmara não fazia vereadora há muitos anos e que jamais uma mulher iria vencer as eleições”. Em 33 anos de história, apenas duas mulheres haviam sido eleitas vereadoras. Elas integraram a 1ª Legislatura da Câmara Municipal.

“O grupo que me apoiou eram cabos eleitorais renovados. Do grupo antigo do meu pai, eu te falo que 98% não me apoiaram”, relembrou Ana Paula ao comentar que sua candidatura sofreu ataques de comentários depreciativos e machistas. “A gente sente. Tem hora que dói na alma. Mas estamos aqui para vencer, enfrentar e aprender”. Ela foi eleita com 33,41% dos votos, se consagrando como a primeira mulher eleita para a Prefeitura de Rio Quente. E, nessa eleição, também foram eleitas duas vereadoras para a Câmara do município.

 

O bate papo

Durante o bate papo, as participantes compartilharam opiniões e vivências, mostrando a imensa necessidade de alterar o ambiente político que hoje é hostil às mulheres. Cileide Alves compartilhou que, apesar de a população votante ser cerca de 53% feminina, a política é um espaço masculino, o que é um grande problema de representatividade.

As questões debatidas tentaram oferecer alternativas favoráveis para que a mulher tenha seu espaço na gestão pública, retirando as propostas já criadas como a distribuição de verba, que muitas vezes funciona apenas como um meio alternativo de criar candidaturas laranjas. 

Uma alternativa favorável foi apresentada pela advogada Nara Bueno: a reserva de assentos nos parlamentos ou assentos alternados no executivo. Nara esclareceu que “o que falta não é apenas uma legislação específica, mas também um cinturão de atitudes para que a mulher possa de fato exercer a democracia”. Por fim, concluíram que a distribuição de verbas não deve ocorrer apenas nos anos eleitorais.

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